terça-feira, 10 de abril de 2012

Arctic Monkeys no Lollapalooza Brasil 2012


Seguindo à risca a pontualidade britânica, o Arctic Monkeys subiu ao palco exatamente às 21h30 da noite, como planejado. Entre a energia da platéia e o alto nível de qualidade da banda, houve muito o que aproveitar. O ritmo contagiante das músicas causou muita empolgação ao público, que não parou em nenhum momento, cantando as letras e acompanhando as guitarras em coro.

É surpreendente pensar que esses meninos de Sheffield simplismente decidiram pedir instrumentos musicais de presente de Natal sem nem mesmo saber tocá-los. O talento nem sempre é óbvio; muitas vezes ele só se mostra forte após a prática, ainda que seja natural. Mas no caso do Arctic Monkeys, não há outra palavra para descrevê-los: talento. Fazer música nunca foi visto como fonte de dinheiro para os Monkeys. Quando começaram a ganhar fama, em 2006, a banda distribuiu gratuitamente seu CD demo para quem quer que quisesse ouvir.

E então, graças à internet, eles explodiram.

Engraçado como a fama vem para quem menos espera. Enquanto garotas fazem loucuras para estampar capas de revista, o Arctic Monkeys pouco se esforçou para chamar a atenção da mídia. De fato, muitas vezes, eles demonstram certo desprezo com relação à imprensa e ao conceito geral de fama. Músicas como "Perhaps Vampires Is A Bit Strong, But...", "Teddy Picker" e "Fake Tales Of San Francisco" são críticas diretas a esse estilo de vida. Essa é mais uma característica bastante única da banda: as letras. Poucos compositores têm a capacidade de escrever pequenas histórias de maneira coerente e transformá-las em música. Esse é o diferencial do Arctic Monkeys. As letras são tão bem escritas que, ao ouvi-las, conseguimos imaginar perfeitamente a situação. Não é como poesia; afinal, estamos tratando de música, e não de literatura; mas certamente há um toque poético nas letras dessas canções. É muito difícil encontrar um compositor hoje em dia que consiga encaixar as mais complexas frases em um refrão, e Alex Turner faz isso com um talento impecável. Alex escreve sobre situações diárias que acontecem em sua vida; coisas que experienciou e cenas que observou, sempre se utilizando de descrições detalhadas. Ao cantar essas letras com seu peculiar sotaque de Sheffield, ele faz com que um pequeno filme rode em nossas mentes. Alguns exemplos disso são as músicas "Cornerstone", "When The Sun Goes Down", "Riot Van", "Do Me A Favour", "From The Ritz To The Rubble", dentre muitas outras.

Essa característica desapareceu um pouco no último álbum. Ao ser questionado sobre o novo estilo de suas letras, Turner simplismente disse estar sendo menos direto; deixando-as mais abertas à interpretação do público. Ao mesmo tempo, ele admitiu evitar tocar algumas de suas músicas mais antigas por não se identificar mais liricamente com elas, sendo muito específicas com relação ao que ele estava vivendo na época. Por isso, não se surpreenda ao se deparar com letras mais vagas em Suck It And See. O álbum, no entanto, não deixa a desejar; o disco mistura novas influências e cria belas melodias, em um passo de mudança na carreira da banda.

Apesar de usar muitas palavras em suas letras, Alex é monossilábico nas entrevistas e sempre pareceu pouco à vontade no ambiente da fama. As letras que escreve serão sempre o mais perto que chegaremos de entendê-lo. A teoria do baterista Matt Helders é a de que, desde que começou a escrever, Turner nunca está 100% concentrado no que faz (além da música). Ele pode estar pensando em rimas no meio de uma conversa, carregando inspiração consigo o tempo todo.

Mas o vocalista que subiu no palco brasileiro no último domingo era outro. Muitos fãs se surpreenderam ao ver um Alex Turner tão animado e à vontade, e aprovaram a mudança. A banda evoluiu socialmente com o passar dos anos, e agora se mostra afiada e já bem acostumada com a atenção da mídia, embora ainda evitando conversas muito longas.

Os Monkeys são conhecidos por manter o foco 100% na música, evitando qualquer tipo de prolongação e indo direto ao ponto, entregando ao público o que ele quer ouvir.  Essa é uma banda que mostra que há outras maneiras de entreter o público. Turner prometeu saltar o mais alto possível, e cumpriu sua palavra: na metade da apresentação de "Still Take You Home", ele subiu na plataforma da bateria de Helders, e saltou em sintonia perfeita com o ritmo da música. Se antes ele se sentia mal sem uma guitarra no ombro, agora até mesmo usufruiu do palco que separava a plateia, durante a performance de "Pretty Visitors", enquanto um amigo tomava seu lugar no teclado. Alex apontou e interagiu com o público em uma atuação energética, contagiando todos que o assistiam.

Matt Helders é um dos poucos bateristas que conseguem captar a atenção imediata da platéia. Esses profissionais geralmente são pouco reconhecidos por estarem sempre nas sombras do líder do grupo, ocupando o fundo do palco. Helders, como muitos outros, acabou na bateria porque "foi o que sobrou". E ainda assim, já é considerado um dos melhores bateristas da atualidade, tendo sido apelidado de "Besta Ágil", devido à sua maneira contagiante de tocar.

"Não consigo tocar nada que eu não tenha inventado. Nunca aprendi a tocar bateria do jeito certo, então sempre que tento fazer um cover, nunca sai perfeito", foi o que ele disse ao Examiner. Considerando o nível da bateria desta música, se isso é não saber tocar direito, podem perder as esperanças, aspirantes a bateristas.

Tudo isso, somado aos impecáveis acordes do baixo de Nick O'Malley e às combinações da guitarra de Jamie "Cookie" Cook, tornou a apresentação única.  Podem voltar, macacos do ártico. Estarei aguardando.

Deixo aqui os melhores momentos do show pra você dar uma olhadinha. E vou te dizer, foi difícil de escolher, porque tudo foi simplismente muito bom.

Aí vai:

A grande entrada com "Don't Sit Down Cause I've Moved Your Chair"


Mais uma vez, a fodástica "Brianstorm":




"I Bet You Look Good On The Dancefloor", dedicada a nós, mulheres! Uhul!



Público cantando "Fluorescent Adolescent" loucamente:



E a última, mas não menos importante: minha favorita, "505":



Se gostou, assista ao show completo aqui!

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